Arte e desenvolvimento do profissional de saúde
- Letícia Gonçalves
- 21 de abr.
- 4 min de leitura
Fico muito alegre nesse espaço em que compartilho reflexões que aprendo estudando medicina do estilo de vida e psicologia positiva. Convido nossos leitores a descobrirem como a ciência tem a capacidade de nos elevar para criação de uma vida apreciativa construindo saúde de forma concreta e autoral.

Felicidade é um tema de fascínio e debate, mas, à luz das pesquisas recentes de psicologia positiva, ela é compreendida de forma ampla como um estado de florescimento pessoal fundamentado em virtudes e forças internas.
Daí a felicidade eudaimônica concentra-se na busca por significado e propósito na vida, indo além da simples experiência de prazer momentâneo. Em contraste com a visão hedônica, que prioriza o acúmulo de sensações positivas e a evitação do desconforto, ela enfatiza o desenvolvimento das potencialidades individuais, a autorreflexão e o florescimento pessoal ao longo do tempo.
Essa perspectiva integra elementos como autoconhecimento, resiliência e o comprometimento com valores e objetivos significativos, apontando para um estado de bem-estar que se constrói através do engajamento em atividades desafiadoras e enriquecedoras.
Falar de arte e saúde é um desafio enriquecedor.
A conexão entre as artes e a medicina possui raízes históricas profundas e se manifesta de forma diversificada. Desde a utilização da arte como meio para aprofundar o estudo e a ilustração da anatomia humana, passando pela aplicação de atividades artísticas que visam promover a saúde e o bem-estar, essa relação revela-se complexa e multifacetada
Já a integração de práticas artísticas no desenvolvimento de profissionais de saúde tem se destacado como uma estratégia para aprimorar habilidades cognitivas, empáticas e comunicativas, contribuindo para a formação integral desses profissionais e inclusive o aumento do repertorio na conexão com os pacientes.
Encontramos estudos que apontam que intervenções artísticas, como a observação de obras, a narrativa e o storytelling, favorecem o desenvolvimento da capacidade de observação, do diagnóstico e do pensamento crítico dos alunos de medicina, estimulando uma visão mais abrangente na prática clínica.

Na historia da medicina brasileira Nise da Silveira foi uma figura revolucionária na psiquiatria, que desafiou os métodos tradicionais ao propor uma abordagem terapêutica centrada na humanização do cuidado e na valorização da singularidade de cada paciente.
Em sua prática clínica, Nise incorporou a arte como ferramenta terapêutica, incentivando os pacientes a expressarem emoções e conflitos internos por meio de atividades artísticas, como a pintura, o desenho e a modelagem, rompendo com o modelo tradicional de tratamento que se baseava exclusivamente na medicalização e a utilização criativa da arte permitiu não só a comunicação de sentimentos difíceis de serem verbalizados, mas também auxiliou na construção de uma identidade mais positiva e na ressignificação do sofrimento, promovendo a reintegração social e a redescoberta do potencial criativo dos indivíduos.
Recentemente foi notícia que médicos suíços prescrevem idas a museus como forma de terapia para saúde mental.
Conectando os benefícios para os pacientes com a riqueza para o bem-estar dos profissionais: o uso da arte na educação em saúde promove a reflexão crítica, a criatividade e a sensibilidade emocional, aspectos essenciais para o estabelecimento de relações empáticas e para a humanização do cuidado, contribuindo diretamente para a melhoria da qualidade na prática clínica e prevenção de Burnout entre os profissionais de saúde.

Dia Mundial da Criatividade e Inovação é um dia global das Nações Unidas comemorado em 21 de abril para conscientizar sobre a importância da criatividade e da inovação na solução de problemas. Especialmente hoje destacar que aplicações de arte no contexto da educação e treinamento em saúde demonstram benefícios robustos para o desenvolvimento profissional, fortalecendo tanto competências técnicas quanto comportamentais além de incentivar o pensamento multidisciplinar criativo nos níveis individual e de grupo.
Letícia Gonçalves é Diretora do Estilo de Vida do movimento Médicos Poetas que tem importante missão no estimulo deliberado de criatividade ( www.medicospoetas.com.br)
Mãe, escritora, fotografa, pintora e poetisa tem usado a psicologia positiva para imprimir vitalidade por onde passa. Membra da diretoria científica do Movimento Médicos Atletas .
Médica de família e comunidade com formação em Nutrologia e Medicina do Estilo de Vida.

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Excelentes referências ias bibliográficas documentando a importância da arte para a saúde mental! Lindo texto!! Parabéns!!!🙏🏼❤️👏👏👏 🖼️