Por Ricardo Shultz Martins
Problemas com a saúde mental são altamente prevalente na população - estima-se que, em 2019, aproximadamente 12-16% da população mundial apresentava algum problema quanto a saúde mental. O impacto de uma saúde mental fragilizada impacta não só as relações interpessoais mas, também, aumenta a incidência de outras doenças como a pressão alta e diabetes - além de reduzir a expectativa de vida em 15-20 anos.
Mas, e quais são os fatores de risco para ter uma saúde mental não tão boa? São vários como, por exemplo, vulnerabilidade genética, efeitos colaterais de certos medicamentos e hábitos de vida não tão saudáveis como alterações alimentares, abuso de substâncias como álcool e tabaco, sedentarismo e privação de sono.
O problema, porém, é que os gastos da saúde em tratamento para alterações na saúde mental estão em crescimento e muito pouco é feito na prevenção dessas doenças - visto que a prevalência se manteve a mesma nas últimas 3 décadas. Além disso, existe um questionamento do uso de antidepressantes e antipsicóticos no longo prazo - uma vez que seu uso crônico leva à um aumento nos efeitos colaterais como ganho de peso, hiperglicemia e perda de libido sem que os benefícios do medicamento sejam justificados, impactando negativamente a vida do paciente.
E então? O que podemos fazer?
Hipócrates já cantou a pedra quando disse que "a caminhada é o medicamento do homem" - mesmo sem ter muito conhecimento sobre os efeitos da atividade física que nós temos hoje. E como o exercício pode impactar na saúde mental?
Existe uma ampla gama de evidências que a atividade física regular tem função tanto na prevenção como no tratamento de doenças que afetam negativamente a saúde mental. Estudos recentes demonstraram que quanto maior for a atividade física de uma pessoa, menores são as chances desta pessoa desenvolver depressão, ansiedade e melhora como a pessoa lida com o estresse do dia a dia. E qual a relação? Sabe-se que pessoas com baixa saúde mental apresentam baixos níveis de atividade física o que está associado com alto índice de massa corporal, obesidade visceral, maior uso de antidepressivos e antipsicóticos além de ter uma característica de ser uma população com baixos níveis de aptidão cardiorrespiratória. Quanto menor a aptidão, menor a capacidade de fazer atividade física, maior o ganho de peso, menor a autoestima o que leva para um aumento no comportamento sedentário - e, consequentemente, menos aptidão física.
Ou seja, o exercício físico quebra esse ciclo vicioso melhorando a aptidão física e a composição corporal o que tem um impacto positivo na autoestima. Além disso, a atividade física regular tem um impacto na neurobiologia da depressão e dos transtornos da saúde mental - inclusive, atuando como potencializador dos remédios antidepressivos.
Mas, e por que o exercício físico não é utilizado?
Primeiro, a abordagem da saúde mental não é multidisciplinar fugindo do escopo de prática médica - por isso é necessário a presença de um educador físico na equipe que aborda problemas relacionado a saúde mental. Segundo, muitos médicos desconhecem o potencial que o exercício físico pode ter na prevenção e tratamentos de doenças psiquiátricas como a depressão e ansiedade e, por isso, acabam não estimulando o paciente a ter uma rotina ativa.
E como o médico pode atuar no incentivo a prática de atividade física? É notória a diferença que faz no comprometimento do paciente quando o estímulo a práticas de exercício vem do médico quando comparado as outras fontes de informação. O simples fato do médico falar "você precisa fazer exercício físico" já está relacionado com um alto índice de, pelo menos, contemplar a ideia de ser ativo. Outro papel que o médico pode ter é no aconselhamento do paciente em praticar alguma atividade física de interesse do paciente. Se é uma pessoa que gosta de correr, o médico deve incentivar a correr, se a pessoa gosta de dançar, o médico deve incentivar a pessoa a dançar e por aí vai e sempre respeitando o limite físico de cada paciente.
E qual a mensagem devo levar para casa? Primeiro, a relação entre depressão (e a ansiedade) com a aptidão física é um ciclo vicioso com uma relação inversa - quanto mais ativo fisicamente menores serão os sintomas depressivos. Segundo, a abordagem da saúde mental deve ser multidisciplinar. Terceiro, o médico tem um papel fundamental no aconselhamento dos pacientes quanto à prática de atividade física uma vez que seu conselho é visto como um conselho de autoridade. Quarto, o exercício físico deve respeitar as vontades e limitações do paciente - ninguém gosta de ser forçado a fazer nada, não é mesmo?
Ricardo Schultz Martins
Mestre em Fisiologia do Exercício pela Brock University.
Bacharel em Fisiologia do Exercício pela Acadia University.
Especialista em Suplementação Esportiva pela Dietitians of Canada.
Acadêmico de Medicina pela Universidade do Planalto Catarinense.
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