top of page

Ferramentas da Psicologia Positiva no gestão de Mudança na Obesidade

Quantas vezes nos deparamos com histórias que transcendem números na balança?


A obesidade, em sua complexidade, é mais do que uma doença crônica – é uma narrativa humana repleta de desafios e possibilidades. Como médica que trabalha com nutrologia e medicina do estilo de vida, reconheço que protocolos são necessários, mas como poeta (sim, porque a medicina também é arte), compreendo que a verdadeira transformação acontece quando aliamos ciência à alma.


Fico muito alegre nesse espaço em que compartilho reflexões que aprendo estudando medicina do estilo de vida e psicologia positiva. Convido nossos leitores a descobrirem como a ciência tem a capacidade de nos elevar para criação de uma vida apreciativa construindo saúde de forma concreta e autoral.





A psicologia positiva, com seu estudo sobre resiliência e florescimento, nos oferece ferramentas delicadas e poderosas – como versos bem colocados – para ajudar nossos pacientes a reescreverem suas histórias.


Ferramentas que Transformam: Da Clínica à Vida


1. Forças de Caráter: O Poder do "Eu Já Tenho"


"Não é sobre o que falta, mas sobre o que resiste."


A abordagem baseada em forças de caráter(1) nos permite enxergar o paciente além do IMC, além da bioimpedância. Desse modo em vez de focar apenas nas limitações, perguntarmos:


"Qual sua maior qualidade? Como ela pode te ajudar nessa jornada?"


O questionário VIA (2) é um excelente ponto de partida – já usei em casos onde a desesperança era maior que a resistência à insulina.


2. Mentalidade de Crescimento: A Beleza do "Ainda Não"


Carol Dweck (3) nos ensina que o cérebro é como um músculo: treinável. Na obesidade, isso se traduz em substituir "eu não consigo" por "ainda não consigo".


Dica clínica-poética: Registro no prontuário de um paciente: "Hoje ele trocou o ‘sempre falho’ por ‘vou aprender’ – pequeno milagre cotidiano.


3. Gratidão: O Olhar que Reconstrói


"A gratidão é a memória do coração."


A ciência nos mostra que a gratidão (4) funciona como um "reparador de lentes" - ela ajusta o foco para o que permanece bom mesmo nos dias difíceis. Na prática clínica, observo que muitos pacientes vivem num estado de "desalento metabólico", onde só enxergam o que falta.


Intervenção que uso: O "diário das pequenas vitórias" - não sobre números na balança, mas sobre :

✓ "Hoje escolhi escutar minha fome emocional por 5 minutos antes de agir"

✓ "Percebi o sabor doce natural da manga sem culpa"

✓ "Agradeci a meu corpo por ter me levado até a praça"


"Diário de gratidão corporal" – não sobre o peso, mas sobre o que o corpo permite fazer (caminhar, abraçar, sentir o sabor de uma fruta).


Um paciente me disse certa vez: "Doutora, quando comecei a anotar o que meu corpo ainda faz por mim, parei de tratá-lo como inimigo."

Eis a alquimia da gratidão - transformar a guerra em trégua, depois em paz.


4. Autocompaixão: A Prescrição Mais Sábia


"Trate-se como trataria um amigo ferido." (Neff, 5).

Quantos de nossos pacientes se falam com crueldade?

Ensinei uma paciente a substituir "você é fraca" por "hoje foi difícil, mas amanhã recomeço" – em seis meses de plano de acompanhamento e mudanças no estilo de vida, ela perdeu 8 kg e mais do que isso a conquista de uma nova voz interna.


A autocompaixão vai muito além do "não se cobrar". Neurocientificamente, ativa a rede de segurança do cérebro, reduzindo cortisol e aumentando ocitocina - literalmente mudando a bioquímica do sofrimento . Em meus atendimentos, explico que ela tem três pilares:


Consciência plena: "Notar a dor sem afogar-se nela"

Humanidade compartilhada: "Você não é o único a recair - isso nos une como humanos"

Auto gentileza: "Falar consigo como falaria a um filho aprendendo a andar"



Pôr do Sol Jericoacoara - CE
Pôr do Sol Jericoacoara - CE


5. Emoções Positivas: O Peso da Alegria


Fredrickson (6) mostra que alegria e esperança literalmente ampliam horizontes.

Prescrever atividades prazerosas com a mesma seriedade que uma metformina: dança, pintura, cantar no chuveiro – sim, riso queima calorias.


Nosso papel não é apenas ajustar exames laboratoriais, mas ser jardineiros da mudança.

A psicologia positiva não substitui a nutrologia, mas a completa – como um poema que traz beleza e sentido aos dados.


Que possamos prescrever não apenas dietas, mas também esperança.

Não apenas exercícios, mas também autoaceitação.


Porque tratar a obesidade, no fim, é ajudar alguém a se reencontrar.


"Entre a bula e o soneto, há sempre espaço para um novo começo."




Para finalizar, quero deixar um convite positivo e cheio de propósito: Participe conosco da 2a corrida virtual do Movimento Médicos Atletas que vai acontecer no fim de semana do dia 18 e 19 de outubro de 2025. Você já se inscreveu?!


Clica aqui e participe conosco:





Letícia Gonçalves é Diretora do Estilo de Vida do movimento Médicos Poetas que tem importante missão no cultivo deliberado do positivo ( www.medicospoetas.com.br)


Mãe, escritora, fotógrafa, pintora e poetisa tem usado a psicologia positiva para imprimir vitalidade por onde passa. Membra da diretoria científica do Movimento Médicos Atletas .

Médica de Família e Coaching de Saúde e Estilo de Vida, com formação em Nutrologia e Psicologia Positiva.



Referências – Para os Amantes da Ciência:


Seligman MEP, Csikszentmihalyi M. Am Psychol. 2000;55(1):5-14.


Peterson C, Seligman MEP. Character Strengths and Virtues. 2004.


Dweck CS. Mindset. 2006.


Emmons RA, McCullough ME. J Pers Soc Psychol. 2003;84(2):377-89.


Neff KD. Hum Dev. 2009;52(4):211-14.


Fredrickson BL. Philos Trans R Soc Lond B Biol Sci. 2004;359(1449):1367-78.


Germer CK, Neff KD. Mindful Self-Compassion (MSC). In: Handbook of Mindfulness-Based Programs. 2019.



1 comentario


Estrela Porto
Estrela Porto
há 2 dias

Que texto maravilhoso!!

Me gusta
bottom of page