Provavelmente você já ouviu falar em quiropraxia, mas será que realmente influencia na melhora do seu desempenho esportivo?
A quiropraxia é uma técnica passiva proveniente da Terapia Manual. No Brasil existem duas maneiras de encontrar um profissional habilitado para a prática: graduado (realizou a graduação em quiropraxia) ou fisioterapeuta (com a especialização em quiropraxia). A manipulação (quando estala e faz o som) é definida como uma intervenção mecânica controlada, de alta velocidade e baixa amplitude, levando à alteração da coluna vertebral e dos tecidos moles (músculos) circundantes.
A técnica é recomendada para diversos tratamentos como na dor lombar crônica, enxaquecas e cervicalgias. A mesma possui duas formas de ação: a biomecânica e a neurofisiológica. A abordagem mecanicista (biomecânica) atua sobre uma diminuição de mobilidade manipulável com o objetivo de reduzir tensões mecânicas internas. Já a neurofisiológica afeta os neurônios aferentes primários dos tecidos paraespinhais, o sistema de controle motor e no processamento da dor.
Ao se tratar de desempenho esportivo se entende que é definido pela National Strength and Conditioning Association como a capacidade de responder eficazmente a vários desafios físicos. Exemplos de características relacionadas ao desempenho atlético incluem: força, potência, resistência, agilidade e velocidade.
Entretanto, a eficácia da terapia manipulativa espinhal (TME) para melhorar o desempenho em atletas saudáveis não é clara. Alguns atletas preferem ser tratados antes da competição para otimizar o desempenho, apesar de não terem queixas musculoesqueléticas, e 94% dos atletas que utilizaram tratamento quiroprático nos Jogos Mundiais de 2013 relataram melhorias logo em seguida. Apesar da evidência interessante a TME melhora o desempenho, estudos apontam resultados ambíguos quanto ao desempenho e de que carece de rigor metodológico. Porém, pode de forma indireta incluir melhorias da mecânica da coordenação muscular, tempo de ativação, reação e treinamento motor. Vale frisar que, a quiropraxia pode ser administrada como uma terapia independente, embora seja normalmente oferecida dentro de um tratamento mais amplo.
Uma revisão sistemática (estudo no qual compilada diversos estudos referente à temática) realizada em 2019 trouxe pontos importantes sobre diferentes aspectos:
Parâmetros Fisiológicos: a manipulação da região torácica e lombar não teve efeito significativo na frequência cardíaca (FC) de repouso ou na variabilidade da FC. Ainda que, no ajuste de lombar não teve efeito significativo em outras medidas como na taxa de esforço percebido, durante o teste de esteira de Bruce, VO2 max calculado ou na concentração de lactato sanguíneo.
Parâmetros Biomecânicos: quanto a força muscular relacionado com a disfunção articular identificada da coluna cervical, torácica e lombar e sua manipulação mostrou aumentar a contração voluntária máxima da flexão plantar do sóleo em comparação com um grupo de controle de amplitude de movimento (ADM) ativa e passiva semelhante. Quanto a manipulação da região de T3 - T8, aumentou a flexão lateral (bilateral) e quando manipulado somente T-9, influenciou no aumento da flexão torácica; já a manipulação cervico-torácica aumentou a amplitude de movimento da cervical.
Parâmetros Biomecânicos baropodométricos e de marcha: a manipulação da articulação sacroilíaca bilateral resultou em uma alteração significativa na variável de peso (kg) de ambos os pés e na porcentagem de carga dos pés traseiros em comparação com a técnica placebo de mobilização do quadril sem tensão.
Outros parâmetros biomecânicos como propriocepção da coluna lombar e cinemática escapular mostraram melhorias significativas no senso de posição articular do tronco da coluna lombar.
E por fim dos parâmetros de desempenho no que se trata de movimentos específicos do esporte, não encontraram diferenças.
A revisão sistemática sugeriu que a TME quando comparada com outras intervenções (e nesse caso cada estudo trabalhou com uma) não melhora os resultados baseados no desempenho como descrito anteriormente em cada parâmetro, com exceção de algumas áreas. Melhorias na flexão plantar do tornozelo, na contração voluntária máxima do quadríceps e no senso de posição da articulação lombar foram citadas.
Logo, o que resumir? Basicamente a manipulação entra como um recurso para aliviar alguma sintomatologia dentro de um contexto de tratamento, porém ela por si só não tem potencial de melhorar o desempenho dos atletas. Muitos atletas se sentem confortáveis com a intervenção e gostam de ser manipulados, mas de maneira sólida não interferem em melhoras de desempenho.
Para quem deseja se aprofundar no assunto, segue a revisão baseada nesse artigo de hoje: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30973196/
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