A ventosaterapia é uma terapia usada em muitos sistemas de medicina tradicional há vários milhares de anos, particularmente em países como China e Egito. A técnica envolve a aplicação de ventosas sobre a pele podem ser feitas de vidro, plástico ou silicone. A terapia é baseada em uma tração de sucção da pele e hipoderme: um copo de ventosaterapia é aplicado a uma área de pele predefinida e uma pressão negativa (comparada à pressão atmosférica) é gerada mecanicamente (bombeamento) ou termicamente (resfriamento do ar aquecido) retirando o ar preso de baixo da ventosa. Esse efeito é desencadeado dentro da ventosa através de calor (ventosas de vidro) ou por meio de uma bomba de sucção (ventosas de plástico ou silicone). Como resultado da técnica, a sucção provoca a formação de uma pressão negativa que puxa a pele e os tecidos subjacentes para dentro da ventosa.
Esse processo pode resultar em um aumento do fluxo sanguíneo local e no estiramento da pele e dos músculos.
Quanto aos mecanismos gerados com base na medicina tradicional chinesa é possível citar:
Aumento da circulação sanguínea: a pressão negativa causada pela ventosa pode estimular o fluxo sanguíneo na área tratada. Pensado para promover a oxigenação e a eliminação de resíduos metabólicos, acelerando o processo de cicatrização.
Redução da tensão muscular: a sucção pode ajudar a relaxar os músculos e liberar a tensão muscular. Acontece por meio do estiramento dos músculos e tecidos conjuntivos.
Estimulação dos pontos de acupuntura: em alguns métodos, as ventosas são aplicadas em pontos específicos do corpo semelhantes aos pontos de acupuntura. Acredita-se que isso possa influenciar os meridianos de energia e promover o equilíbrio do corpo.
Já na medicina tradicional é compreendida como terapia reflexa e por três mecanismos potenciais de ação:
Redução da dor causada pela deformação ou mesmo lesão da pele, o que pode estimular fibras Aβ em regiões dolorosas da pele.
Manipulações estimulam campos receptivos inibitórios dos neurônios multirreceptores do corno dorsal.
O próprio ambiente pode ter um efeito relaxante e socialmente reconfortante.
Embora a ventosaterapia tenha uma longa tradição em vários modelos de medicina tradicional, os mecanismos exatos de ação ainda não estão claros.
Ao se tratar da eficácia da técnica tem sido estudada em várias condições, como dor nas costas, dores musculares e distúrbios musculoesqueléticos diversos. Alguns estudos sugerem que a ventosaterapia pode ser eficaz para reduzir a dor e melhorar a função muscular no curto prazo, embora os resultados sejam variáveis, com viés de seleção e com número de participantes reduzido, misturada com problemas metodológicos e incertezas em mais da metade dos estudos. Já, quando comparada a outros tratamentos não farmacológicos, projetar e realizar ensaios clínicos da técnica é um desafio, particularmente com relação ao cegamento e seleção de intervenções de controle dos participantes e resultados. Assim, o desenvolvimento de um procedimento simulado ou placebo que seja fisiologicamente inerte da ventosaterapia é difícil ou mesmo impossível.
Do ponto de vista dos riscos da terapia parecem ser baixos. Os efeitos colaterais típicos da ventosaterapia, como hematoma da pele sob a área de aplicação, são menores e transitórios se contraindicações como o uso de anticoagulantes e distúrbios com risco aumentado de sangramento forem seguidos. Nessa perspectiva, as alguns estudos atuais sugerem incluir a ventosaterapia como uma ferramenta de tratamento não farmacológico em uma estratégia de tratamento multimodal para dor musculoesquelética, o que pode ajudar a reduzir o uso de AINEs e outros analgésicos. No entanto, há muitos pontos obscuros em relação à intervenção da ventosaterapia, principalmente em relação aos efeitos do tratamento eficaz para tal condição.
Portanto, a ventosaterapia é uma prática com raízes em tradições antigas e tem sido estudada em vários contextos clínicos. Ainda que, haja evidências que suportam alguns dos benefícios da ventosaterapia, a qualidade das evidências varia, e mais estudos bem desenhados são necessários para confirmar a eficácia e entender os mecanismos exatos. Por um lado, são necessários grandes ensaios pragmáticos com períodos de acompanhamento de médio a longo prazo comparando a eficácia da terapia com outros tratamentos não farmacêuticos e farmacêuticos para dor baseados em evidências.
Importante salientar que existem outras técnica com base sólida para tratamento de disfunções musculoesqueléticas como a terapia manual, manipulações e mobilizações do tecido e o dry neddling que são linha de tratamento primária.
Como base para a escrita desse post deixo uma revisão publicada no The Jornal of Pain: https://www.jpain.org/article/S1526-5900(20)30003-1/fulltext
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