CBD e THCv: Os Novos Recrutas da Guerra Contra a Obesidade
- Dr Guilherme Nery
- 2 de abr.
- 5 min de leitura
Você já tentou de tudo para perder peso: dieta da lua, jejum intermitente, cortar glúten, lactose e até aquele bendito chocolatinho pós-almoço... E mesmo assim, a balança insiste em te boicotar? Pois bem, talvez esteja na hora de pensar fora da caixa (ou da geladeira).
Que tal um aliado inesperado: a Cannabis Medicinal?

Sim, você leu certo. Não, não é uma desculpa para largar tudo e virar Rasta. A ideia aqui não é “ficar chapado”, mas sim entender como compostos não-psicoativos da planta — como o CBD (canabidiol) e o THCv (tetrahidrocanabivarina) — podem ser adjuvantes promissores no controle do peso corporal, ajudando inclusive no combate à temida síndrome metabólica.
O Sistema Endocanabinoide: Um Maestro do Metabolismo
Tudo começa com um sistema biológico fascinante chamado sistema endocanabinoide. Ele regula uma infinidade de processos, incluindo apetite, metabolismo de gorduras, armazenamento de energia e até a inflamação.
Dentro desse sistema, o receptor CB1 é o grande responsável por aumentar o apetite (sim, ele é o culpado daquela vontade doida por pizza às 23h). Em pessoas obesas ou com diabetes tipo 2, esses receptores estão superativados — o que contribui para o acúmulo de gordura e resistência à insulina.
Foi com base nessa descoberta que surgiram medicamentos como o Rimonabanto, um bloqueador de CB1 que prometia milagre contra a obesidade... até que seus efeitos colaterais (como depressão, ansiedade e tendencias ao auto extermínio) o tiraram de circulação. Mas calma! É aqui que o CBD e o THCv entram em cena.
THCv: O Canabinoide Antissocial com a Gordura
O THCv é um primo do THC (o famoso responsável pela “brisa”), mas com uma diferença crucial: ele não dá barato. E melhor ainda: ao invés de ativar, ele bloqueia os receptores CB1, reduzindo o apetite e promovendo o uso da gordura armazenada como energia.
Estudos em humanos mostram que o THCv pode:
Reduzir o peso corporal e a circunferência abdominal;
Melhorar os níveis de colesterol e triglicérides;
Aumentar a sensibilidade à insulina, um fator-chave no combate ao diabetes tipo 2.
Além disso, uma pesquisa recente revelou que o THCv protege as células-tronco da gordura contra o estresse celular e reduz inflamações durante a formação de novas células de gordura. Traduzindo: ele ajuda o corpo a formar “gordura do bem” e evita que a inflamação desencadeie problemas metabólicos.

CBD: O Pacificador do Metabolismo
O CBD, por outro lado, é mais conhecido por suas propriedades anti-inflamatórias, ansiolíticas e relaxantes — mas também tem um papel importante no metabolismo. Ele atua como um modulador do CB1 (sem bloquear de forma agressiva como o THCv), ajudando a diminuir o apetite de forma mais sutil e contribuindo para a melhora do perfil lipídico e da glicemia.
Além disso, o CBD:
Reduz a resistência à insulina;
Aumenta a produção de adiponectina, um hormônio que melhora o metabolismo de gorduras e a sensibilidade à insulina;
Ameniza a inflamação crônica que muitas vezes acompanha a obesidade.
Ou seja, o CBD é tipo aquele amigo calmo que resolve as tretas sem gritar — ele não ataca a fome diretamente, mas ajusta os bastidores do corpo para que tudo funcione melhor.

THCv + CBD: Uma Dupla Improvável
Quando combinados, THCv e CBD formam uma dupla quase heróica. Um estudo clínico com pessoas acima do peso mostrou que a administração diária de fitocanabinoides em tiras orais (com 16mg de THCv e 20mg de CBD) resultou em:
Perda significativa de peso;
Redução da gordura abdominal;
Melhora nos níveis de colesterol total e LDL;
Redução da pressão arterial.
Nada mal para uma plantinha tão controversa, né?
Mas... Isso Quer Dizer que Posso Trocar a Academia pela Cannabis?
Calma lá, campeão. A ideia não é substituir dieta e exercício por CBD ou THCv. Eles são ferramentas auxiliares — o famoso “plus a mais” — que podem potencializar os efeitos de um estilo de vida saudável. Pense neles como um empurrãozinho bioquímico para ajudar seu corpo a voltar ao eixo.
Além disso, vale lembrar que a prescrição médica é essencial. Estamos falando de substâncias com mecanismos complexos e que ainda estão sendo amplamente estudadas. Nada de sair comprando óleo “full spectrum” na primeira esquina.
E os Efeitos Colaterais?
A boa notícia é que tanto o CBD quanto o THCv são bem tolerados e não causam os efeitos colaterais psiquiátricos dos bloqueadores CB1 sintéticos como o Rimonabanto. No estudo com pacientes diabéticos, ambos os compostos foram bem aceitos e não causaram alterações indesejadas no humor ou sono.
E o Futuro?
Com o avanço da ciência e a regulamentação mais flexível em torno da Cannabis Medicinal, é provável que vejamos uma nova geração de terapias canabinoides voltadas ao metabolismo. Inclusive, já há suplementos de CBD+THCv ganhando espaço em clínicas de emagrecimento nos EUA.
O importante é entender que a Cannabis não é uma bala de prata, mas sim uma ferramenta poderosa, que quando usada com conhecimento e responsabilidade, pode contribuir (e muito!) na luta contra doenças metabólicas modernas como obesidade, diabetes tipo 2 e síndrome metabólica.

Resumo para os apressadinhos:
O THCv bloqueia receptores CB1, reduz o apetite e ajuda a queimar gordura abdominal.
O CBD melhora o metabolismo, a sensibilidade à insulina e reduz inflamações.
Juntos, eles podem ajudar no controle de peso, sempre como adjuvantes e com prescrição médica.
A Cannabis Medicinal pode sim ser uma aliada no emagrecimento — desde que usada com ciência, bom senso e... um tênis para caminhar junto!

📚 Referências Científicas
Jadoon KA, et al. Efficacy and Safety of Cannabidiol and Tetrahydrocannabivarin on Glycemic and Lipid Parameters in Patients With Type 2 Diabetes: A Randomized, Double-Blind, Placebo-Controlled, Parallel Group Pilot Study. Diabetes Care. 2016;39(10):1777–86. doi:10.2337/dc16-0650.➤ Utilizado para: evidências de que o THCv reduziu glicemia de jejum, melhorou função pancreática e aumentou adiponectina em pacientes com diabetes tipo 2.
Smith GL. Weight Loss and Therapeutic Metabolic Effects of Tetrahydrocannabivarin (THCV)-Infused Mucoadhesive Strips. Cannabis. 2025;8(1):109–110.➤ Utilizado para: dados de perda de peso, redução de colesterol, pressão arterial e circunferência abdominal com tiras de THCv/CBD.
Kowalczuk A, et al. Tetrahydrocannabivarin (THCV) Protects Adipose-Derived Mesenchymal Stem Cells Against Endoplasmic Reticulum Stress Development and Reduces Inflammation During Adipogenesis. Int J Mol Sci. 2023;24(7120). doi:10.3390/ijms24087120.➤ Utilizado para: efeito protetor do THCv contra estresse celular e inflamação em células de gordura.
Matias I, et al. Regulation, Function, and Dysregulation of Endocannabinoids in Models of Adipose and Pancreatic Cells and in Obesity and Hyperglycemia. J Clin Endocrinol Metab. 2006;91(8):3171–80. doi:10.1210/jc.2005-2679.➤ Utilizado para: papel do sistema endocanabinoide no aumento de gordura, resistência à insulina e disfunção metabólica periférica.
Bouaboula M, et al. Anandamide Induced PPARγ Transcriptional Activation and 3T3-L1 Preadipocyte Differentiation. Eur J Pharmacol. 2005;517(2-3):174–81. doi:10.1016/j.ejphar.2005.05.032.➤ Utilizado para: relação entre canabinoides (como anandamida) e ativação do PPARγ, promovendo formação de adipócitos.
Karaliota S, et al. Anandamide Increases the Differentiation of Rat Adipocytes and Causes PPARγ and CB1 Receptor Upregulation. Obesity. 2009;17(10):1830–8. doi:10.1038/oby.2009.177.➤ Utilizado para: reforço da tese de que o sistema endocanabinoide contribui para a adipogênese e obesidade, por vias envolvendo CB1 e PPARγ.
Raffa RB, Ward SJ. CB1-Independent Mechanisms of Δ9-THCV, AM251, and SR141716 (Rimonabant). J Clin Pharm Ther. 2012;37(2):260–5. doi:10.1111/j.1365-2710.2011.01284.x.➤ Utilizado para: evidência de que o THCv age também por mecanismos independentes dos receptores CB1, o que o diferencia de bloqueadores sintéticos como o rimonabanto.
Comments