Equilíbrio entre carreira médica, treinos e família: um desafio possível
- Dra Alessandra Russo
- 7 de jul.
- 3 min de leitura
Conciliar a carreira médica com treinos regulares e ainda manter tempo de qualidade com a família é, sem dúvida, um dos maiores desafios para quem vive a medicina com intensidade e também carrega a paixão pelo esporte. São jornadas longas, plantões, demandas cognitivas e emocionais elevadas, somadas ao desejo (ou necessidade) de treinar para manter o corpo e a mente saudáveis. Tudo isso enquanto se busca estar presente na vida das pessoas que mais importam. Parece difícil né?
Para muitos médicos, o esporte vai muito além do lazer: é uma ferramenta de saúde mental, uma forma de aliviar o estresse do dia a dia intenso, recarregar as energias e prevenir o burnout. Mas o tempo é um recurso finito — e o risco é que, ao tentar abraçar tudo, acabem surgindo sentimentos de culpa ou frustração. Seja por chegar atrasado a um compromisso familiar por causa de uma corrida que se estendeu, seja por não conseguir encaixar o treino do dia após um turno exaustivo no hospital.
Por isso, encontrar o equilíbrio é mais do que administrar agendas; é sobre reconhecer prioridades que podem mudar conforme o momento da vida. E, principalmente, construir uma rotina flexível que comporte ajustes sem culpa. Afinal, quando a gente se cuida e se ama, cuidamos melhor dos nossos familiares e pacientes.

Pequenas escolhas, grandes impactos
Uma das principais armadilhas é acreditar que é preciso manter o mesmo ritmo em todas as áreas ao mesmo tempo. Muitas vezes, será necessário reduzir a carga de treinos em épocas de maior demanda profissional ou priorizar eventos familiares importantes, adaptando-se sem perder o vínculo com o esporte.
Estruturar o dia com micro-hábitos — como usar escadas no hospital, caminhar entre atendimentos, ou mesmo fazer alongamentos rápidos (o Instagram do movimento tem a série lanchinho de exercício que pode ajudar) — ajuda a manter o corpo ativo. Isso não substitui o treino programado, mas mantém o organismo em movimento e reforça a mentalidade saudável.
Por outro lado, valorizar o momento do treino como um compromisso inadiável algumas vezes por semana é fundamental para não abrir mão totalmente de algo que faz bem. Compartilhar a importância desse autocuidado com a família também gera compreensão e apoio. E se a familia vier junto? Aí é ainda mais legal!

Comunicação é a chave
Dividir as expectativas com parceiros, filhos e até mesmo com colegas de trabalho pode aliviar pressões silenciosas. Combinar horários, explicar o quanto o esporte ajuda na saúde mental e na disposição para estar presente em casa, torna tudo mais claro.
Quando a família se sente incluída, até mesmo atividades físicas podem virar momentos compartilhados: uma pedalada no fim de semana, uma caminhada no parque com as crianças, ou assistir juntos a provas e competições. Assim, o esporte deixa de ser um elemento isolado e passa a integrar a vida familiar.

Evitar o “tudo ou nada”
Um erro comum entre nós médicos atletas é adotar a mentalidade do “tudo ou nada”: se não puder fazer o treino completo, não faz nada. Mas às vezes 20 minutos de corrida ou um treino funcional em casa já bastam para melhorar o humor e a disposição. O mesmo vale para a vida familiar — pequenos momentos de presença plena, como um jantar sem celular, podem ser mais valiosos do que horas juntos com a mente distante.
Na carreira médica, aceitar que alguns ciclos serão mais puxados — como residência, semanas de congressos ou momentos de plantões extras — ajuda a aliviar a autocobrança. Ter períodos programados de recuperação física e mental, assim como na periodização esportiva, também faz parte do equilíbrio.
E por fim, o equilíbrio é dinâmico
Por fim, é importante entender que equilíbrio não é um estado fixo, mas um ajuste constante. Haverá semanas em que o trabalho vai exigir mais, outras em que o treino ganhará destaque, e outras ainda em que a família precisará ser o centro absoluto. E está tudo bem. O essencial é ter clareza do que é mais importante no longo prazo e cultivar a flexibilidade para reorganizar o que for necessário, sem abandonar quem você é.
Porque, no fim das contas, ser médico, atleta e membro de uma família são partes indissociáveis da mesma pessoa. E o verdadeiro sucesso está em viver cada uma delas com presença, propósito e o coração em paz.

Um abraço
Alessandra
Dra Alessandra Freitas Russo é neurologista da infância e da adolescência com mestrado e doutorado pela USP. Atua na clínica Vivere, uma clínica de reabilitação infantil, onde é sócia fundadora. É especialista em medicina do estilo de vida e acredita que a alegria e a gratidão são pilares de uma vida mais feliz.
@neuroevoce @vivereclnicagranjaviana @institutoviveresp





Comentários