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O impacto do exercício na neuroplasticidade e na saúde cerebral

Muito se fala sobre os benefícios do exercício físico para o coração, o controle do peso e a prevenção de doenças metabólicas. No entanto, a ciência tem mostrado, de forma cada vez mais robusta, que talvez os maiores ganhos do movimento estejam na saúde do cérebro. E eu, como neuropediatra amo esse tema!


O exercício é um verdadeiro modulador da nossa neuroplasticidade, a capacidade que o sistema nervoso possui de se modificar estrutural e funcionalmente em resposta a experiências, estímulos e aprendizados ao longo da vida.


A neuroplasticidade não é privilégio apenas de crianças e jovens. Embora o cérebro em desenvolvimento seja altamente plástico, já sabemos que adultos — e até idosos — continuam capazes de formar novas conexões sinápticas, fortalecer redes neurais e até gerar novos neurônios em algumas regiões, como o hipocampo. E o exercício físico é um dos mais potentes estímulos naturais para esse processo.


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Como o exercício remodela o cérebro?


Quando nos movimentamos, uma série de cascatas bioquímicas é ativada. Durante e após o exercício, ocorre aumento na liberação de neurotrofinas, como o BDNF (fator neurotrófico derivado do cérebro), um dos principais responsáveis por promover a sobrevivência de neurônios, estimular a neurogênese e fortalecer sinapses. Além do BDNF, o exercício estimula a liberação de IGF-1 e VEGF, que estão associados à plasticidade neural e angiogênese, melhorando a irrigação cerebral.


Outro ponto fundamental é o impacto no fluxo sanguíneo cerebral. A prática regular de atividade física melhora a perfusão e oxigenação do cérebro, aumentando a oferta de nutrientes e contribuindo para a remoção de metabólitos potencialmente tóxicos.


Além disso, estudos de neuroimagem têm mostrado que pessoas fisicamente ativas apresentam maior volume em áreas cerebrais cruciais para memória e aprendizagem, como o hipocampo e o córtex pré-frontal, comparadas a sedentários. Esses achados sugerem que o exercício não apenas mantém, mas pode reverter parte do declínio estrutural associado ao envelhecimento.


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Benefícios para cognição e humor


Toda essa remodelação cerebral traz reflexos diretos no funcionamento cognitivo. Diversas pesquisas apontam que o exercício melhora funções executivas, atenção, velocidade de processamento e memória. Isso vale tanto para pessoas saudáveis quanto para aquelas em risco ou já com déficits cognitivos, como na Doença de Alzheimer.


O exercício também é um antidepressivo natural. Ele regula neurotransmissores como serotonina, dopamina e noradrenalina, modulando circuitos relacionados ao humor e à ansiedade. Não por acaso, a prática regular de atividade física é recomendada como parte do tratamento de transtornos depressivos e ansiosos.


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Tipo, intensidade e frequência


Mas qual o tipo de exercício mais benéfico para o cérebro? De forma geral, atividades aeróbicas (como caminhar, correr, pedalar) são as mais estudadas e apresentam forte relação com aumento do BDNF e melhora cognitiva. Entretanto, exercícios de força também têm mostrado resultados importantes, especialmente em idosos.


A combinação de modalidades parece ser o ideal. Exercícios que exigem coordenação, aprendizado motor e interação social, como esportes coletivos ou danças, agregam ainda mais desafios neurais, potencializando a plasticidade.


A intensidade moderada a vigorosa, realizada de forma regular (pelo menos 150 minutos semanais), tem o melhor respaldo científico. No entanto, mesmo pequenas doses já trazem benefícios: caminhadas curtas, ao longo do dia, contribuem para a manutenção da saúde cerebral.


Um investimento a longo prazo


Em um mundo onde o envelhecimento populacional é um dos maiores desafios de saúde pública, entender o impacto do exercício na neuroplasticidade ganha ainda mais relevância. Manter-se fisicamente ativo ao longo da vida não só previne o declínio cognitivo, mas pode atrasar o surgimento de doenças neurodegenerativas e melhorar a reserva cognitiva, que é a capacidade do cérebro de compensar lesões ou processos patológicos.


Mais do que uma ferramenta estética ou apenas cardiovascular, o exercício é, hoje, reconhecido como uma verdadeira terapia cerebral. Incorporar o movimento no dia a dia é investir na capacidade do cérebro de aprender, se adaptar e florescer — não importa a idade.

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Um abraço

Alessandra


Dra Alessandra Freitas Russo é neurologista da infância e da adolescência com mestrado e doutorado pela USP. Atua na clínica Vivere, uma clínica de reabilitação infantil, onde é sócia fundadora. É especialista em medicina do estilo de vida e acredita que a alegria e a gratidão são pilares de uma vida mais feliz.

@neuroevoce @vivereclnicagranjaviana @institutoviveresp


 
 
 

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